29 de fev. de 2008

Despertar

Eles acordaram!
É tempo de vida, reprimida canção!
Não há mais lágrimas, ínfimas dores se vão.
E eles despertam!

Explodem os passos
da multidão de palavras desgarradas,
manada estourada.

Eis o sol levantado e a noite acordada,
a caneta viva e o punho erguido.
Eles despertam,
raízes entranhando-se na terra.
São brotos que rasgam solos úmidos,
são teus dedos entranhando o peito meu,
bombeando ar e sangue,
e lume e seiva,
e vida e verso.

Desobstruidores de pulmões e vias públicas.
Destruidores de mansões pútridas.
Ei-los como pedras contra o batalhão de choque,
como toque petalado em tua alma,
como calma bruma.

Subitamente acordaram,
velhos naufragados,
insones insolentes,
descontentes incomodados.

Eles rompem grades, voam de janelas,
sobem nuvens, exalam eucaliptos,
rodopiam saias, carregam bandeiras,
dissolvem-se no sangue e na vodca,
vívidos...
Ei-los como vértices
perfurando a carne dos desavisados.

Ei-los acordados
numa agência bancária, numa urgência incendiária,
fartos dos números,
do fétido câncer capital.

Ei-los despertos,
abertos, perversos,
meus sufocados versos.