tag:blogger.com,1999:blog-84515933237612621492024-03-13T01:35:41.008-03:00ATRAVERSANDOAtravés do verso, atravesso a rua, você, o universoYara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.comBlogger24125tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-16739270014353640372016-07-31T00:31:00.000-03:002016-07-31T00:35:11.909-03:00Recém NascidoRompe a casca.<br />
Rebento envolto<br />
em vermelhos óleos.<br />
Revolto.<br />
<br />
Nasce maduro.<br />
Como um canto<br />
que tanto se estancou.<br />
Ecoa futuros.<br />
<br />
Tanto se quis<br />
extirpá-lo, abortá-lo,<br />
considerá-lo tumor.<br />
Um vírus em metástase.<br />
Um surto alucinógeno.<br />
<br />
Ele era mais...<br />
<br />
Filhos de tantos úteros<br />
(rochedos)<br />
ele é nascente:<br />
água pura e violenta<br />
desentranhada.<br />
<br />
É aurora bela e radioativa<br />
escorrendo<br />
em acelerado<br />
metabolismo.<br />
<br />
Hasteará versos de arrebol<br />
pelas ruas.<br />
Bruto e fresco,<br />
como um fruto cítrico.<br />
<br />Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-64500670342037715462015-07-19T23:15:00.000-03:002015-07-19T23:15:04.685-03:00Acidente de TrabalhoA máquina<br />
tem fome de carne humana.<br />
Graxa, sangue, suor<br />
lubrificam suas presas canibais.<br />
<br />
Na cadeia alimentar<br />
do Capital,<br />
todos os dias,<br />
ela come quilos transpirados,<br />
bebe horas, anos<br />
de vida gotejada.<br />
<br />
Sucuri rija,<br />
seus dentes<br />
às vezes impactam.<br />
E ela digere<br />
de um só golpe<br />
um dedo, uma mão,<br />
um braço, uma vida.<br />
Carne uniformizada moída.<br />
<br />
Não. Não é acidental.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-41044424720698624582012-05-03T01:04:00.000-03:002012-05-03T01:04:08.691-03:00TransfusãoApenas me avise<br />
se desejar uma transfusão<br />
<br />
de sangue<br />
saliva<br />
ou sinestesias.<br />
<br />
Do orvalho<br />
que minha corola<br />
ocultou.<br />
<br />
Tudo que secretei,<br />
que puder ser injetado,<br />
todo verso que coagule<br />
e te cause<br />
reação.<br />
<br />
<br />Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-7053176467434997472012-04-17T18:31:00.000-03:002012-04-17T18:31:59.813-03:00Cubo MágicoNo vértice da tarde<br />
minha cor e a tua<br />
tão primárias<br />
se expandem<br />
por todos os lados<br />
poliédricos.<br />
<br />
(Enquanto outros cubos<br />
incolores, doloridos,<br />
gelam o verso do corpo,<br />
o álcool do copo)<br />
<br />
Nossas cores pontiagudas<br />
circundam um eixo<br />
(de vida)<br />
<br />
E se teu movimento<br />
preciso, calculado,<br />
encontra, ao acaso,<br />
no mesmo de seis lados<br />
minha cor sem rumo,<br />
<br />
é apenas para saber<br />
nosso perfeito encaixe.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-44006485141058346022011-03-22T18:27:00.001-03:002011-03-22T18:28:18.909-03:00TinturaNão preciso me pintar<br />
para que borboletas<br />
me entendam flor.<br />
<br />
Unhas nuas.<br />
O lábio colorido apenas <br />
pelo beijo.<br />
Desprovida de laço de fita. <br />
De rímel, rendas, riscos.<br />
<br />
Minhas cores<br />
próprias, únicas,<br />
não escorrem sob a chuva.<br />
Levo-as,<br />
rubras,<br />
no peito.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-13233703051701307382011-02-17T11:55:00.000-02:002011-02-17T11:55:33.544-02:00TangenteTu tangencias,<br />
tão tântrico.<br />
Lambendo a beira orgásmica da libido. <br />
Língua solar na borda do seio do horizonte.<br />
<br />
No ponto único crítico e clitórico<br />
em que me interceptas:<br />
toque tão retilíneo<br />
da ponta dos dedos<br />
sobre minhas curvas;<br />
neste ponto me encontras<br />
tão completa.<br />
<br />
É exata e matematicamente<br />
esta tua tanta tentativa de apenas tangenciar<br />
que, inevitável, me perfura.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-70273104296817830982011-01-18T11:16:00.000-02:002011-01-18T11:16:59.395-02:00Nuas uvasAs uvas pedem<br />
que tua paciência<br />
as descasque.<br />
<br />
Uvas<br />
que se sabem lentas<br />
quentes pencas<br />
esperadas.<br />
<br />
Elas pedem<br />
que pouses<br />
o breu do teu<br />
contemplar<br />
sobre claras carnes nuas.<br />
<br />
E só então<br />
após<br />
e apenas<br />
que mordas<br />
que chupes<br />
uvas<br />
com a avidez de vulvas<br />
e a delicadez de avencas.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-53591533194366957502010-12-18T23:11:00.001-02:002010-12-18T23:11:25.000-02:00GuardadosFazem bem<br />
as nostalgias e os analógicos<br />
presos na relojoaria.<br />
Ouvir vinis<br />
e bem-te-vis na janela<br />
e pequenas velharias.<br />
<br />
Às vezes<br />
prefiro o verso<br />
datilografado.<br />
Guardo amores mofados,<br />
uns trecos,<br />
grampos, pregos,<br />
potes usados.<br />
<br />
Prezo muito<br />
este pó<br />
sobre os retratos.<br />
O paletó demodê<br />
e o buraco no sapato.<br />
<br />
Gosto de deixar<br />
as melhores palavras<br />
alí na caixa de rascunhos<br />
para serem comidas por traças,<br />
envelhecerem safras.<br />
<br />
Gosto de passear<br />
no cheiro grisalho dos sebos.<br />
E do amor<br />
que não é para agora.<br />
Guardá-lo<br />
num velho livro <br />
ou naquelas caixas bonitas<br />
que não se joga fora.<br />
<br />
Deixa.<br />
Que a pressa não faz bem<br />
nem ao vinho nem ao poema.<br />
<br />
Deixa.<br />
Que o coração é grande<br />
e está cheio de cacarecos.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-38151584143820312772010-12-01T01:47:00.000-02:002010-12-01T01:47:17.110-02:00MedusaPor um segundo<br />
me amas.<br />
<br />
E em tua camisa<br />
minhas madeixas<br />
serpentes<br />
mambas negras<br />
vivas<br />
se enroscam.<br />
<br />
Por um segundo<br />
encaras meus olhos.<br />
O verso<br />
veneno via iris<br />
tão narciso quanto meduso.<br />
<br />
Miras o verso<br />
por um instante<br />
suficiente.<br />
<br />
E em teu peito<br />
eu<br />
petri<br />
Fico.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-14253453194018356492010-11-23T12:15:00.003-02:002010-11-23T12:16:14.275-02:00Eu cedoO que dar ao poema<br />
que acorda?<br />
<br />
Eu<br />
de leite.<br />
Um resquício<br />
de madrugada sonhada<br />
insiste.<br />
Derrete no pão.<br />
<br />
Aroma fresco<br />
nos poros do filtro<br />
coando<br />
destilando flores.<br />
<br />
Colho o trigo,<br />
reconheço<br />
a estação, a safra<br />
salivando o açúcar. <br />
<br />
A fome matinal<br />
do poema<br />
cede<br />
sabe.<br />
<br />
É cedo ainda.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-44819021879187226042010-08-13T16:30:00.001-03:002010-09-19T22:36:21.350-03:00MarcíliaQue se faça silêncio na sala<br />
para que Marcília<br />
pinte os cílios.<br />
Minuciosa. Ensimesmada.<br />
<br />
Se Marcília,<br />
serena e sádica,<br />
pinta os cílios desapressada,<br />
se as pálpebras<br />
assombradas e sombreadas<br />
piscam<br />
e, desacelerados,<br />
os cílios curvilíneos<br />
em revoada<br />
abrem ventos e pausas no tempo...<br />
apenas faça silêncio.<br />
<br />
Nenhum som se emita<br />
se os lábios entreabertos<br />
se vestem de tons cerejais.<br />
<br />
Se o espelho<br />
é insuficiente<br />
para a síntese pessegal<br />
da face de Marcília,<br />
só disfarce e observe a simetria.<br />
<br />
Mas faça silêncio<br />
para que os cílios de Marcília<br />
não alcem vôo.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-2482300378277270612010-08-11T15:35:00.003-03:002010-08-11T15:47:49.507-03:00No EnquantoBeatriz presa<br />na geografia quântica<br />do Enquanto.<br />O corpo paira<br />no espaço-tempo.<br />Beatriz presa no purgatório.<br /><br />Beatriz no mar,<br />cúmplice do sal.<br />Permitiu que o vento se esvaísse<br />na fresta entre dunas.<br /><br />Mas não.<br />Beatriz não fica em banho maria.<br />Ela ferve ou congela<br />ao menor toque.<br />Beatriz não ameniza.<br />Alquímica e empírica,<br />ela cura a seu modo as feridas.<br />É dessas que passeia na chuva<br />e só bebe o que for intenso.<br />Beatriz condensa.<br />Eutanásica,<br />recusa o coma, a sobrevida.<br />Rejeita médias aritméticas,<br />meios termos.<br /><br />Beatriz<br />presa no purgatório,<br />a libido no limbo.<br />Diabólica, fabulística,<br />aprende a moral da história.<br />Recua.<br />O paraíso não existe.<br /><br />Beatriz no triz da carne<br />recusa a prisão.<br />De dentro do Enquanto, fez-se o pranto<br />e ela não mais quis.<br />Mergulhou<br />tão abissal<br />no verso.<br />Nunca mais voltou.<br />Desenquantou-se.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-13726681715030633302010-07-19T16:22:00.002-03:002010-07-19T16:27:43.507-03:00# Versificado<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_cRYDcJAAqCg/TESmcuqrwxI/AAAAAAAAAPA/gSPStnPx1uo/s1600/anuncio+versificado+yara.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 191px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_cRYDcJAAqCg/TESmcuqrwxI/AAAAAAAAAPA/gSPStnPx1uo/s320/anuncio+versificado+yara.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5495700457792455442" border="0" /></a><br />Folha de S. Paulo, 17/07/2010 - Negócios - Matérias Primas<br /><a href="http://versificados.blogspot.com">www.versificados.blogspot.com</a><br /><br /></div>Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-86475399598471069312010-07-15T16:49:00.004-03:002010-07-15T17:18:40.703-03:00ConcretoGosto da poesia<br />que nasce na casca do pão,<br />que rompe esparramando<br />migalhas de aroma na mesa<br />antes mesmo de nascer o sol.<br /><br />Gosto da poesia guardanápica,<br />de gosto alcoólico,<br />soluçada no bar.<br />O verso exalado das camas,<br />nas cores vivas das vulvas.<br />Poesia pornodatilográfica:<br />filha das Olivettis.<br /><br />Gosto da poesia que salta<br />dos calos dos dedos,<br />rascunhada no papel sujo<br />de suor e graxa.<br />Poesia que dói<br />as sedes humanas.<br /><br />A poesia que nasce<br />suja de líquido amniótico,<br />que grita o parto,<br />que escandaliza.<br /><br />Isso sim, é poesia concreta.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-42620345392097427452010-07-13T20:50:00.001-03:002010-07-13T20:52:08.771-03:00JazzTeu toque<br />é tão grave...<br /><br />É nota improvisada<br />que me dedilha<br />trepidando cordas<br />bambeando pernas.<br /><br />Um swing segue pelo sangue.<br />E eu solo.<br /><br />Se teu jazz me toca,<br />eu deixo de ser blue.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-25760786638620782842010-06-08T20:34:00.002-03:002010-06-08T20:39:56.132-03:00IntempérieFaça solo ou faça coro,<br />faça sol ou faça dó,<br />eu, soprano,<br />canto só.<br />Sou choro.<br /><br />Faça chuva ou faça clave,<br />eu acho a chave<br />e abro o sol.<br /><br />Na falta<br />de seta siga,<br />eu sigo Sade.<br /><br />Se cega a faca,<br />se fraco o sangue,<br />eu sangro um soul<br />no seu mangue.<br /><br />Caia o sol ou nasça a chuva,<br />faça falta ou seja breve,<br />salitre eu sempre levo<br />sob a manga.<br /><br />Faça sol<br />ou faça sombra,<br />eu sofro solo,<br />eu faço samba.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-21451021486775430142010-04-27T18:39:00.000-03:002010-04-27T18:41:02.315-03:00OperáriaEm tua cútis,<br />o que aveluda?<br />O que muda tonalidades?<br />O pó não é de arroz,<br />é de ferro.<br />Restos de produção,<br />fina camada maquiada<br />de cansaço.<br /><br />Em tua carne operária<br />despida de ferramentas<br />é fim de turno.<br /><br />Em tua boca<br />sorvo o sono<br />e o café.<br /><br />Mordo o músculo<br />laboral.<br />O lábio.<br />Tua tão prima matéria.<br />Teu insumo.<br /><br />Engrenamos<br />entre fluidos lubrificantes.<br /><br />E o que se produz<br />neste instante<br />é inalienável.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-43631697126033437012009-03-04T16:54:00.002-03:002009-12-18T21:10:36.034-02:00Poemáquinaasdfg hjklç asdfg hjklç<br /><br />tec tec tec<br /><br />nos dedos gregos dactilos<br />meus estilos<br />tipos grafam<br />tipos gritam<br /><br />violenta tecla bate<br />tec tec<br />te cortando<br />alavanca a saltitante letra<br />carimbando folha branca<br />tec tinta tec tinta<br />e troca a fita<br />e apita<br />o fim de linha<br /><br />se saltitantes as letras<br />pousam uma a uma<br />lino típicas<br />utópicas<br />dançarinas<br /><br />se sangram grafias<br />fiam linhas<br />esses tipos<br />atípicos<br /><br />se sustenido<br />o teclado<br />(maiu)oscula os tipos altos<br /><br />eu tipifico um verso torto<br />atemporal<br />datilográfico<br />pterodáctilo<br />(vindo voando<br />de tempos idos)<br /><br />os tipos mudam...<br /><br />e eu sempre<br />esta máquina<br />de escreversoYara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com20tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-27510992177463398782008-08-28T11:58:00.003-03:002009-12-18T21:29:20.886-02:00In-exataseria possível<br />calcular-me resolver-me abstrair-me<br />descobrir minha raiz<br />meu xis<br />meu milesi-mal?<br /><br />eu<br />sempre esta tangencial<br />beirando lambendo tocando<br />a pele da tua circun-ferida<br />poética universal<br /><br />eu<br />sempre vértice<br />de um triste prisma<br />tentáculo retilíneo<br />de carambola<br />perfurando-te<br /><br />eu<br />tirando-te dos eixos<br />eu sempre parábola<br />concha côncava<br />abrindo-me<br />infinitando minhas linhas<br /><br />eu<br />sempre paralela<br />para todos para ela<br />congruentemente cruzada<br />pelo ângulo de um olhar<br /><br />eu<br />tua beatriz, tua bissetriz<br />dividindo-te<br />confundindo-te<br />para não ser sub-traída<br /><br />eu<br />(cuidado!)<br />sempre em minha má-temática<br />milimétrica mítica<br />matoYara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com22tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-51645085743826846432008-07-16T16:30:00.002-03:002009-12-18T21:31:41.885-02:00DesembarqueUm adotivo caminha<br />pela sisuda cidade,<br />desnaturada Medéia.<br />Capital do impreciso traço,<br />do passo ritmado,<br />da perda do siso.<br /><br />Observa a selva.<br />Urbe medusamente<br />esparramada,<br />de peças mal encaixadas.<br /><br />Um olhar furtivo<br />pousa nos bicos dos seios<br />da catedral da Sé,<br />que amamentam sonhos tísicos.<br />Picos que perfuram neblinas,<br />ozônios, garoas.<br /><br />Adentra a esquisofrenia:<br />muitas vozes,<br />muitas máquinas<br />escarram flores carbônicas.<br /><br />Ela, cinza, concretiza<br />um solo árido.<br />Um útero<br />teimosamente semeado.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-27964144499501843672008-04-02T17:51:00.002-03:002009-12-18T21:42:31.187-02:00ÁcidaDeleita-se a contradição.<br />É um limão e uma lima,<br />uma rima desritmada,<br />um riso rugindo.<br /><br />Agridoce temperamentada,<br />fermenta raivas picantes.<br />Aromatiza de lilases<br />a quaresma.<br /><br />Incendiária ebulicionista,<br />artista desroteirizada.<br /><br />Uma orquidácea poetisa,<br />inferniza...<br />acidifica a primavera,<br />floresce no cinza.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-16855401777305612732008-03-24T11:32:00.002-03:002009-12-18T21:43:41.404-02:00Boneca rubraDorme, criança<br />emaranhada.<br />Porque em teu sono<br />descansam afiados trovões.<br /><br />Dorme, boneca cacheada.<br />Cerra tuas labaredas,<br />teus universais olhos,<br />tuas longas cortinas de cílios.<br /><br />Dorme, pequena bruxa.<br />Tua porcelana pintada<br />cobre interior ígneo,<br />rochedo em marcha<br />a exorcizar espectros.<br /><br />Dorme,<br />russa matrioshka,<br />em teu vestido rodado.<br />Porque teu sono nublado<br />prepara, sereno,<br />uma alvorada desalienada.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-23206580437653380552008-03-22T14:23:00.003-03:002009-12-18T21:43:58.244-02:00EloGarganta<br />que jorra o banzo e o guizo.<br />Dentes que beliscam<br />o universo com um sorriso.<br />Que são liras<br />Que são prismas.<br /><br />Tu provocas, tu esfinges,<br />com a boca que é foice, é fruto, é flor.<br /><br />Música<br />que brota dos dedos, dos pulsos,<br />dos olhos de semicolcheia,<br />dos pés que bailam<br />no palco das veias.<br /><br />No momento blue<br />a poesia estava ao meu lado:<br />Era elo, era ela.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8451593323761262149.post-32664305283551715552008-02-29T00:54:00.002-03:002009-12-18T21:48:18.770-02:00DespertarEles acordaram!<br />É tempo de vida, reprimida canção!<br />Não há mais lágrimas, ínfimas dores se vão.<br />E eles despertam!<br /><br />Explodem os passos<br />da multidão de palavras desgarradas,<br />manada estourada.<br /><br />Eis o sol levantado e a noite acordada,<br />a caneta viva e o punho erguido.<br />Eles despertam,<br />raízes entranhando-se na terra.<br />São brotos que rasgam solos úmidos,<br />são teus dedos entranhando o peito meu,<br />bombeando ar e sangue,<br />e lume e seiva,<br />e vida e verso.<br /><br />Desobstruidores de pulmões e vias públicas.<br />Destruidores de mansões pútridas.<br />Ei-los como pedras contra o batalhão de choque,<br />como toque petalado em tua alma,<br />como calma bruma.<br /><br />Subitamente acordaram,<br />velhos naufragados,<br />insones insolentes,<br />descontentes incomodados.<br /><br />Eles rompem grades, voam de janelas,<br />sobem nuvens, exalam eucaliptos,<br />rodopiam saias, carregam bandeiras,<br />dissolvem-se no sangue e na vodca,<br />vívidos...<br />Ei-los como vértices<br />perfurando a carne dos desavisados.<br /><br />Ei-los acordados<br />numa agência bancária, numa urgência incendiária,<br />fartos dos números,<br />do fétido câncer capital.<br /><br />Ei-los despertos,<br />abertos, perversos,<br />meus sufocados versos.Yara Souzahttp://www.blogger.com/profile/11145118983373850129noreply@blogger.com3