22 de mar. de 2011

Tintura

Não preciso me pintar
para que borboletas
me entendam flor.

Unhas nuas.
O lábio colorido apenas
pelo beijo.
Desprovida de laço de fita.
De rímel, rendas, riscos.

Minhas cores
próprias, únicas,
não escorrem sob a chuva.
Levo-as,
rubras,
no peito.

17 de fev. de 2011

Tangente

Tu tangencias,
tão tântrico.
Lambendo a beira orgásmica da libido.
Língua solar na borda do seio do horizonte.

No ponto único crítico e clitórico
em que me interceptas:
toque tão retilíneo
da ponta dos dedos
sobre minhas curvas;
neste ponto me encontras
tão completa.

É exata e matematicamente
esta tua tanta tentativa de apenas tangenciar
que, inevitável, me perfura.

18 de jan. de 2011

Nuas uvas

As uvas pedem
que tua paciência
as descasque.

Uvas
que se sabem lentas
quentes pencas
esperadas.

Elas pedem
que pouses
o breu do teu
contemplar
sobre claras carnes nuas.

E só então
após
e apenas
que mordas
que chupes
uvas
com a avidez de vulvas
e a delicadez de avencas.