Faça solo ou faça coro,
faça sol ou faça dó,
eu, soprano,
canto só.
Sou choro.
Faça chuva ou faça clave,
eu acho a chave
e abro o sol.
Na falta
de seta siga,
eu sigo Sade.
Se cega a faca,
se fraco o sangue,
eu sangro um soul
no seu mangue.
Caia o sol ou nasça a chuva,
faça falta ou seja breve,
salitre eu sempre levo
sob a manga.
Faça sol
ou faça sombra,
eu sofro solo,
eu faço samba.
8 de jun. de 2010
27 de abr. de 2010
Operária
Em tua cútis,
o que aveluda?
O que muda tonalidades?
O pó não é de arroz,
é de ferro.
Restos de produção,
fina camada maquiada
de cansaço.
Em tua carne operária
despida de ferramentas
é fim de turno.
Em tua boca
sorvo o sono
e o café.
Mordo o músculo
laboral.
O lábio.
Tua tão prima matéria.
Teu insumo.
Engrenamos
entre fluidos lubrificantes.
E o que se produz
neste instante
é inalienável.
o que aveluda?
O que muda tonalidades?
O pó não é de arroz,
é de ferro.
Restos de produção,
fina camada maquiada
de cansaço.
Em tua carne operária
despida de ferramentas
é fim de turno.
Em tua boca
sorvo o sono
e o café.
Mordo o músculo
laboral.
O lábio.
Tua tão prima matéria.
Teu insumo.
Engrenamos
entre fluidos lubrificantes.
E o que se produz
neste instante
é inalienável.
4 de mar. de 2009
Poemáquina
asdfg hjklç asdfg hjklç
tec tec tec
nos dedos gregos dactilos
meus estilos
tipos grafam
tipos gritam
violenta tecla bate
tec tec
te cortando
alavanca a saltitante letra
carimbando folha branca
tec tinta tec tinta
e troca a fita
e apita
o fim de linha
se saltitantes as letras
pousam uma a uma
lino típicas
utópicas
dançarinas
se sangram grafias
fiam linhas
esses tipos
atípicos
se sustenido
o teclado
(maiu)oscula os tipos altos
eu tipifico um verso torto
atemporal
datilográfico
pterodáctilo
(vindo voando
de tempos idos)
os tipos mudam...
e eu sempre
esta máquina
de escreverso
tec tec tec
nos dedos gregos dactilos
meus estilos
tipos grafam
tipos gritam
violenta tecla bate
tec tec
te cortando
alavanca a saltitante letra
carimbando folha branca
tec tinta tec tinta
e troca a fita
e apita
o fim de linha
se saltitantes as letras
pousam uma a uma
lino típicas
utópicas
dançarinas
se sangram grafias
fiam linhas
esses tipos
atípicos
se sustenido
o teclado
(maiu)oscula os tipos altos
eu tipifico um verso torto
atemporal
datilográfico
pterodáctilo
(vindo voando
de tempos idos)
os tipos mudam...
e eu sempre
esta máquina
de escreverso
28 de ago. de 2008
In-exata
seria possível
calcular-me resolver-me abstrair-me
descobrir minha raiz
meu xis
meu milesi-mal?
eu
sempre esta tangencial
beirando lambendo tocando
a pele da tua circun-ferida
poética universal
eu
sempre vértice
de um triste prisma
tentáculo retilíneo
de carambola
perfurando-te
eu
tirando-te dos eixos
eu sempre parábola
concha côncava
abrindo-me
infinitando minhas linhas
eu
sempre paralela
para todos para ela
congruentemente cruzada
pelo ângulo de um olhar
eu
tua beatriz, tua bissetriz
dividindo-te
confundindo-te
para não ser sub-traída
eu
(cuidado!)
sempre em minha má-temática
milimétrica mítica
mato
calcular-me resolver-me abstrair-me
descobrir minha raiz
meu xis
meu milesi-mal?
eu
sempre esta tangencial
beirando lambendo tocando
a pele da tua circun-ferida
poética universal
eu
sempre vértice
de um triste prisma
tentáculo retilíneo
de carambola
perfurando-te
eu
tirando-te dos eixos
eu sempre parábola
concha côncava
abrindo-me
infinitando minhas linhas
eu
sempre paralela
para todos para ela
congruentemente cruzada
pelo ângulo de um olhar
eu
tua beatriz, tua bissetriz
dividindo-te
confundindo-te
para não ser sub-traída
eu
(cuidado!)
sempre em minha má-temática
milimétrica mítica
mato
16 de jul. de 2008
Desembarque
Um adotivo caminha
pela sisuda cidade,
desnaturada Medéia.
Capital do impreciso traço,
do passo ritmado,
da perda do siso.
Observa a selva.
Urbe medusamente
esparramada,
de peças mal encaixadas.
Um olhar furtivo
pousa nos bicos dos seios
da catedral da Sé,
que amamentam sonhos tísicos.
Picos que perfuram neblinas,
ozônios, garoas.
Adentra a esquisofrenia:
muitas vozes,
muitas máquinas
escarram flores carbônicas.
Ela, cinza, concretiza
um solo árido.
Um útero
teimosamente semeado.
pela sisuda cidade,
desnaturada Medéia.
Capital do impreciso traço,
do passo ritmado,
da perda do siso.
Observa a selva.
Urbe medusamente
esparramada,
de peças mal encaixadas.
Um olhar furtivo
pousa nos bicos dos seios
da catedral da Sé,
que amamentam sonhos tísicos.
Picos que perfuram neblinas,
ozônios, garoas.
Adentra a esquisofrenia:
muitas vozes,
muitas máquinas
escarram flores carbônicas.
Ela, cinza, concretiza
um solo árido.
Um útero
teimosamente semeado.
2 de abr. de 2008
Ácida
Deleita-se a contradição.
É um limão e uma lima,
uma rima desritmada,
um riso rugindo.
Agridoce temperamentada,
fermenta raivas picantes.
Aromatiza de lilases
a quaresma.
Incendiária ebulicionista,
artista desroteirizada.
Uma orquidácea poetisa,
inferniza...
acidifica a primavera,
floresce no cinza.
É um limão e uma lima,
uma rima desritmada,
um riso rugindo.
Agridoce temperamentada,
fermenta raivas picantes.
Aromatiza de lilases
a quaresma.
Incendiária ebulicionista,
artista desroteirizada.
Uma orquidácea poetisa,
inferniza...
acidifica a primavera,
floresce no cinza.
24 de mar. de 2008
Boneca rubra
Dorme, criança
emaranhada.
Porque em teu sono
descansam afiados trovões.
Dorme, boneca cacheada.
Cerra tuas labaredas,
teus universais olhos,
tuas longas cortinas de cílios.
Dorme, pequena bruxa.
Tua porcelana pintada
cobre interior ígneo,
rochedo em marcha
a exorcizar espectros.
Dorme,
russa matrioshka,
em teu vestido rodado.
Porque teu sono nublado
prepara, sereno,
uma alvorada desalienada.
emaranhada.
Porque em teu sono
descansam afiados trovões.
Dorme, boneca cacheada.
Cerra tuas labaredas,
teus universais olhos,
tuas longas cortinas de cílios.
Dorme, pequena bruxa.
Tua porcelana pintada
cobre interior ígneo,
rochedo em marcha
a exorcizar espectros.
Dorme,
russa matrioshka,
em teu vestido rodado.
Porque teu sono nublado
prepara, sereno,
uma alvorada desalienada.
22 de mar. de 2008
Elo
Garganta
que jorra o banzo e o guizo.
Dentes que beliscam
o universo com um sorriso.
Que são liras
Que são prismas.
Tu provocas, tu esfinges,
com a boca que é foice, é fruto, é flor.
Música
que brota dos dedos, dos pulsos,
dos olhos de semicolcheia,
dos pés que bailam
no palco das veias.
No momento blue
a poesia estava ao meu lado:
Era elo, era ela.
que jorra o banzo e o guizo.
Dentes que beliscam
o universo com um sorriso.
Que são liras
Que são prismas.
Tu provocas, tu esfinges,
com a boca que é foice, é fruto, é flor.
Música
que brota dos dedos, dos pulsos,
dos olhos de semicolcheia,
dos pés que bailam
no palco das veias.
No momento blue
a poesia estava ao meu lado:
Era elo, era ela.
29 de fev. de 2008
Despertar
Eles acordaram!
É tempo de vida, reprimida canção!
Não há mais lágrimas, ínfimas dores se vão.
E eles despertam!
Explodem os passos
da multidão de palavras desgarradas,
manada estourada.
Eis o sol levantado e a noite acordada,
a caneta viva e o punho erguido.
Eles despertam,
raízes entranhando-se na terra.
São brotos que rasgam solos úmidos,
são teus dedos entranhando o peito meu,
bombeando ar e sangue,
e lume e seiva,
e vida e verso.
Desobstruidores de pulmões e vias públicas.
Destruidores de mansões pútridas.
Ei-los como pedras contra o batalhão de choque,
como toque petalado em tua alma,
como calma bruma.
Subitamente acordaram,
velhos naufragados,
insones insolentes,
descontentes incomodados.
Eles rompem grades, voam de janelas,
sobem nuvens, exalam eucaliptos,
rodopiam saias, carregam bandeiras,
dissolvem-se no sangue e na vodca,
vívidos...
Ei-los como vértices
perfurando a carne dos desavisados.
Ei-los acordados
numa agência bancária, numa urgência incendiária,
fartos dos números,
do fétido câncer capital.
Ei-los despertos,
abertos, perversos,
meus sufocados versos.
É tempo de vida, reprimida canção!
Não há mais lágrimas, ínfimas dores se vão.
E eles despertam!
Explodem os passos
da multidão de palavras desgarradas,
manada estourada.
Eis o sol levantado e a noite acordada,
a caneta viva e o punho erguido.
Eles despertam,
raízes entranhando-se na terra.
São brotos que rasgam solos úmidos,
são teus dedos entranhando o peito meu,
bombeando ar e sangue,
e lume e seiva,
e vida e verso.
Desobstruidores de pulmões e vias públicas.
Destruidores de mansões pútridas.
Ei-los como pedras contra o batalhão de choque,
como toque petalado em tua alma,
como calma bruma.
Subitamente acordaram,
velhos naufragados,
insones insolentes,
descontentes incomodados.
Eles rompem grades, voam de janelas,
sobem nuvens, exalam eucaliptos,
rodopiam saias, carregam bandeiras,
dissolvem-se no sangue e na vodca,
vívidos...
Ei-los como vértices
perfurando a carne dos desavisados.
Ei-los acordados
numa agência bancária, numa urgência incendiária,
fartos dos números,
do fétido câncer capital.
Ei-los despertos,
abertos, perversos,
meus sufocados versos.
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