18 de dez. de 2010

Guardados

Fazem bem
as nostalgias e os analógicos
presos na relojoaria.
Ouvir vinis
e bem-te-vis na janela
e pequenas velharias.

Às vezes
prefiro o verso
datilografado.
Guardo amores mofados,
uns trecos,
grampos, pregos,
potes usados.

Prezo muito
este pó
sobre os retratos.
O paletó demodê
e o buraco no sapato.

Gosto de deixar
as melhores palavras
alí na caixa de rascunhos
para serem comidas por traças,
envelhecerem safras.

Gosto de passear
no cheiro grisalho dos sebos.
E do amor
que não é para agora.
Guardá-lo
num velho livro
ou naquelas caixas bonitas
que não se joga fora.

Deixa.
Que a pressa não faz bem
nem ao vinho nem ao poema.

Deixa.
Que o coração é grande
e está cheio de cacarecos.

1 de dez. de 2010

Medusa

Por um segundo
me amas.

E em tua camisa
minhas madeixas
serpentes
mambas negras
vivas
se enroscam.

Por um segundo
encaras meus olhos.
O verso
veneno via iris
tão narciso quanto meduso.

Miras o verso
por um instante
suficiente.

E em teu peito
eu
petri
Fico.