Fazem bem
as nostalgias e os analógicos
presos na relojoaria.
Ouvir vinis
e bem-te-vis na janela
e pequenas velharias.
Às vezes
prefiro o verso
datilografado.
Guardo amores mofados,
uns trecos,
grampos, pregos,
potes usados.
Prezo muito
este pó
sobre os retratos.
O paletó demodê
e o buraco no sapato.
Gosto de deixar
as melhores palavras
alí na caixa de rascunhos
para serem comidas por traças,
envelhecerem safras.
Gosto de passear
no cheiro grisalho dos sebos.
E do amor
que não é para agora.
Guardá-lo
num velho livro
ou naquelas caixas bonitas
que não se joga fora.
Deixa.
Que a pressa não faz bem
nem ao vinho nem ao poema.
Deixa.
Que o coração é grande
e está cheio de cacarecos.