13 de ago. de 2010

Marcília

Que se faça silêncio na sala
para que Marcília
pinte os cílios.
Minuciosa. Ensimesmada.

Se Marcília,
serena e sádica,
pinta os cílios desapressada,
se as pálpebras
assombradas e sombreadas
piscam
e, desacelerados,
os cílios curvilíneos
em revoada
abrem ventos e pausas no tempo...
apenas faça silêncio.

Nenhum som se emita
se os lábios entreabertos
se vestem de tons cerejais.

Se o espelho
é insuficiente
para a síntese pessegal
da face de Marcília,
só disfarce e observe a simetria.

Mas faça silêncio
para que os cílios de Marcília
não alcem vôo.

11 de ago. de 2010

No Enquanto

Beatriz presa
na geografia quântica
do Enquanto.
O corpo paira
no espaço-tempo.
Beatriz presa no purgatório.

Beatriz no mar,
cúmplice do sal.
Permitiu que o vento se esvaísse
na fresta entre dunas.

Mas não.
Beatriz não fica em banho maria.
Ela ferve ou congela
ao menor toque.
Beatriz não ameniza.
Alquímica e empírica,
ela cura a seu modo as feridas.
É dessas que passeia na chuva
e só bebe o que for intenso.
Beatriz condensa.
Eutanásica,
recusa o coma, a sobrevida.
Rejeita médias aritméticas,
meios termos.

Beatriz
presa no purgatório,
a libido no limbo.
Diabólica, fabulística,
aprende a moral da história.
Recua.
O paraíso não existe.

Beatriz no triz da carne
recusa a prisão.
De dentro do Enquanto, fez-se o pranto
e ela não mais quis.
Mergulhou
tão abissal
no verso.
Nunca mais voltou.
Desenquantou-se.