24 de mar. de 2008

Boneca rubra

Dorme, criança
emaranhada.
Porque em teu sono
descansam afiados trovões.

Dorme, boneca cacheada.
Cerra tuas labaredas,
teus universais olhos,
tuas longas cortinas de cílios.

Dorme, pequena bruxa.
Tua porcelana pintada
cobre interior ígneo,
rochedo em marcha
a exorcizar espectros.

Dorme,
russa matrioshka,
em teu vestido rodado.
Porque teu sono nublado
prepara, sereno,
uma alvorada desalienada.

22 de mar. de 2008

Elo

Garganta
que jorra o banzo e o guizo.
Dentes que beliscam
o universo com um sorriso.
Que são liras
Que são prismas.

Tu provocas, tu esfinges,
com a boca que é foice, é fruto, é flor.

Música
que brota dos dedos, dos pulsos,
dos olhos de semicolcheia,
dos pés que bailam
no palco das veias.

No momento blue
a poesia estava ao meu lado:
Era elo, era ela.