18 de dez. de 2010

Guardados

Fazem bem
as nostalgias e os analógicos
presos na relojoaria.
Ouvir vinis
e bem-te-vis na janela
e pequenas velharias.

Às vezes
prefiro o verso
datilografado.
Guardo amores mofados,
uns trecos,
grampos, pregos,
potes usados.

Prezo muito
este pó
sobre os retratos.
O paletó demodê
e o buraco no sapato.

Gosto de deixar
as melhores palavras
alí na caixa de rascunhos
para serem comidas por traças,
envelhecerem safras.

Gosto de passear
no cheiro grisalho dos sebos.
E do amor
que não é para agora.
Guardá-lo
num velho livro
ou naquelas caixas bonitas
que não se joga fora.

Deixa.
Que a pressa não faz bem
nem ao vinho nem ao poema.

Deixa.
Que o coração é grande
e está cheio de cacarecos.

14 comentários:

Anônimo disse...

Gostei há muita profundidade nas suas palavras um talento incrível

Grã disse...

"De manhãzinha o sol entrou pela janela
Revirando os meus segredos
Invadindo a minha cela
Procurando no meu ninho
Coisas do arco-da-velha

Abriu gavetas, revirou minhas lembranças,
Revi cartas, telegramas,
Diademas, bugigangas,
Cheiro de água de colônia
Da mulher que eu não amei

Me desarmou de minhas armas mais secretas
Esbarrou na minha pressa
De chegar ou de partir
Espetando a minha calma
como se eu fosse um faquir"
Alceu Valença

Bj

Blog do Akira disse...

Belíssimo. Extraordinário.

Jorge Manuel Brasil Mesquita disse...

Esbarrei num belo poema e encontrei as palavras certas que vim deixar por aqui: votos de um Feliz Natal.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Lisboa, 20/12/2010

Anônimo disse...

Achei um link para este blog num orkut e cliquei de curioso.
Eu adoro o cheiro dos sebos mas nunca soube defini-lo tão bem como você: o cheiro grisalho dos sebos.
Muito original.
Parabéns
Ozzi

Larissa disse...

Lindeza, estás para sempre guardada na caixinha velha do meu peito. Saudade. Beijos, Lari.

Alex Pinheiro disse...

Aiai,,, isso tem muito de mim. Estranho que guardo um tanto de cacareco sem importância e esqueço coisas outras tão importantes, rs.


Feliz 2011 e VamoQueVamo semeando #poesiadegraça nesse novo ano o/


Bjs e reveladoras invenções!

Cel Bentin disse...

que o mundo é das partes rasas dos cacarecos, só pra dar pé. duro é que a gente sempre tropeça nessas porções de memória acesa.

dos que mais curti entre os teus, as imagens e relações estão fluidas sem fazer o ritmo acelerar a ansiedade. saboroso e fundo ali, onde moram os mais caros cacarecos.

Marcela Santos disse...

Gostei muito! Mensagem para a vida, essa... Não ter pressa.

Anônimo disse...

Gostei tanto daqui, quero voltar sempre.

Jandy disse...

ola adorei seu blog desde ja seguindo.. td aqui eh muito lindo e encantador! Beijos de luz p vc..
pode seguir-me?
jandyscorpion.blogspot.com

AnaCris (Nika) disse...

gostei muito do seu espaço e dos escritos, moça!
tenho um blog tb e participo da organização de um sarau em São Paulo, também virtual.
deixo os links, caso se interesse.

um abraço!
http://sentidostodos.blogspot.com/
http://eitasarau.wordpress.com/

leila saads disse...

Esse poema foi diferente dos outros, leve, singelo. Daqueles que não deixam dúvidas na cabeça - mas um leve sorriso de re-conhecimento ao final.

Anônimo disse...

Gosto de amor passado,
é igual a vinho.
quanto mais velho melhor.

Eu gosto é dos amores incendiários, das janelas e portas batendo. Do delírio. A exaustão.

Fazia tempo que não vinha aqui. Vc não deve vir a mais tempo ainda.

Moa