16 de jul. de 2008

Desembarque

Um adotivo caminha
pela sisuda cidade,
desnaturada Medéia.
Capital do impreciso traço,
do passo ritmado,
da perda do siso.

Observa a selva.
Urbe medusamente
esparramada,
de peças mal encaixadas.

Um olhar furtivo
pousa nos bicos dos seios
da catedral da Sé,
que amamentam sonhos tísicos.
Picos que perfuram neblinas,
ozônios, garoas.

Adentra a esquisofrenia:
muitas vozes,
muitas máquinas
escarram flores carbônicas.

Ela, cinza, concretiza
um solo árido.
Um útero
teimosamente semeado.

7 comentários:

Anônimo disse...

Olhos semicerrados
diante da palidez viva da multidão.
A cidade cega pulsa
em ritmo descompassado.
Vejo entreaberto
o vai-e-vem desordenado.
Sigo teus passos frenéticos
em tempo e espaço.
Agito-me
e espero a cidade amontoada adormecer.

Anônimo disse...

"escarram flores carbônicas" foi ge-ni-al!!!

Bjs e cimentadas invenções!

mg6es disse...

adorei, Yara!

coincid�ncia gostosa, sim? a favor do vento: verso.

linkada est�s!

bjo

Salve Jorge disse...

Não sou do concreto
Nem dessa cidade
Tenho necessidade
De outro teto
Mais amplo
Mais céu
Onde possa ir ao léu
Achar um campo
Destilar afeto
Por um céu de brigadeiro
Horizontalmente sobre o cerrado
Marcado pelo modernismo
Que confere um tanto de lirismo
Ao concreto armado
A esse meu terreiro
Onde faço picadeiro
Medéias à parte...

J.R. Lima disse...

Fecundo caos de fumaça, concreto, dinheiro sonhos, vidas e mortes em um caleidoscópio mil vezes colado, quebrado mil e uma.

H.Hora disse...

É lindo esse concreto em forma de flor.

Lee disse...

capital do impreciso toque
teu peito

selva de passos sem ritmo
teu coração

meu corpo sem encaixes